Dubladores pedem pela regulamentação do uso de IA no país
Um protesto de dubladores brasileiros pela regulamentação do uso de IA (Inteligência Artificial) no segmento, lançado em janeiro de 2024, já coletou mais de 100 mil assinaturas. Segundo a campanha Dublagem Viva, a inovação tecnológica pode trazer prejuízos para o segmento, que faz a adaptação audiovisual de produções internacionais, entre filmes, séries, novelas e jogos de videogame, e impactar todo o setor de arte e cultura.
A campanha conta com a participação de dubladores como Wendel Bezerra, Gilberto Baroli, Selma Lopes, Christiane Monteiro e o apoio de instituições representativas como Sated-SP (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de São Paulo) e Interartis Brasil, associação de gestão coletiva do setor audiovisual formada por artistas brasileiros que atuam como intérpretes de televisão, vídeo ou cinema.
Além disso, a iniciativa está conectada a diversos movimentos internacionais que buscam a regulamentação da IA para o segmento, como AVTA (Sindicato de Actores de Voz y Voice Talents de Madrid), OVU (Organización de Voces Unidas), UVA (United Voice Artists) e NAVA (National Association of Voice Actors).
Nos Estados Unidos, a greve dos atores de Hollywood durou quase quatro meses em 2023. No dia 8 de novembro do último ano, o SAG-AFTRA (sindicato que representa os atores de Hollywood) informou que chegou a um acordo provisório com os estúdios de cinema e serviços de streaming do setor. Segundo informações da revista “Variety”, divulgadas pelo G1, o acordo aumenta em 7% a maioria dos salários mínimos nos contratos dos atores.
Manifesto pede pela valorização da dublagem no Brasil
Segundo o texto da Dublagem Viva, “a regulamentação da IA deve ser elaborada de forma a equilibrar os avanços tecnológicos com a preservação de empregos e garantir a qualidade da dublagem, mantendo o respeito aos profissionais e à indústria audiovisual”.
A campanha ressalta que a IA não deve ser usada para reproduzir vozes de atores em outros idiomas para a língua portuguesa do Brasil a fim de substituir os dubladores. Para os manifestantes, é essencial preservar a expressão vocal, emoção e interpretação artística que os profissionais trazem para o processo de dublagem. “A tecnologia deve ser vista como uma ferramenta complementar, não como um substituto”, diz o texto.
Em nota, os manifestantes também destacam que o uso de IA na dublagem deve estar em conformidade com as leis de direitos autorais e respeitar os contratos de trabalho e acordos estabelecidos com os detentores dos direitos. Defendem, ainda, que a regulamentação seja elaborada de forma abrangente, consultando todos os envolvidos no setor.
Na visão de Rogerio Gomes, CEO da WRG Marketing, é importante que as dublagens permaneçam com os dubladores brasileiros: “Para muitas pessoas, algumas das melhores memórias da infância são aquelas assistindo a seus desenhos animados preferidos – e isso nas vozes dos dubladores que marcaram toda uma geração”.
A dublagem brasileira nasceu em 1938, com a estreia do longa-metragem “Branca de Neve e os Sete Anões”, de Walt Disney, que recebeu as vozes dos cantores Dalva de Oliveira e Carlos Galhardo. O Brasil celebra o Dia do Dublador em 29 de junho. Hoje, para atuar como dublador no país, é preciso ter o DRT (registro profissional de ator), com curso completo de teatro, que pode durar de um a três anos.
Para o CEO da WRG Marketing, diante da ampla adesão às inovações digitais, e de sua relação com profissionais de diversos setores, é preciso falar sobre os limites éticos. “Precisamos refletir até onde queremos avançar com a IA, que começou com ChatGPT, evoluiu para as pesquisas que fazemos via internet (como melhor cama box, melhor concurso, curso design de joias ou assistir futebol ao vivo), IA nos celulares e até como assistente de compra em loja virtual”, pontua. “Ou seja, já são inúmeras aplicações que usam IA para as mais diversas atividades e essa discussão é extremamente necessária, e precisa ser feita agora, senão, o que será desta tecnologia daqui a cinco anos?”, finaliza.
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