Prevenção: boa parte dos casos de cegueira e deficiência visual poderiam ser evitados, segundo OMS
O brasileiro não cuida bem da saúde ocular. A afirmação encontra respaldo na opinião de especialistas e também nos números. Uma pesquisa feita pelo Ibope em 2019 aponta que 34% da população brasileira nunca foi ao oftalmologista. E é justamente com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da prevenção e do diagnóstico de doenças nos olhos que em 10 de julho se comemora o Dia Mundial da Saúde Ocular.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50 milhões de brasileiros sofrem algum tipo de distúrbio da visão. E 60% dos casos envolvem cegueira e deficiência visual que, se tratados com antecedência, poderiam ter sido evitados, informa o Ministério da Saúde.
Wilma Lelis, secretária do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), diz que, em geral, o brasileiro não se importa com a saúde ocular. “O brasileiro não tem o hábito de fazer exames preventivos. Via de regra procura [um especialista] quando sente alguma dificuldade visual ou algum sintoma relacionado aos olhos”, pontua.
Em alguns casos, procurar ajuda médica apenas quando surge um problema nos olhos pode ser tarde demais. Isso porque boa parte das doenças que causam perda visual são lentas, progressivas e não apresentam sintomas, explica Wilma.
Doença que acomete cerca de 1,5 milhão de brasileiros, o glaucoma, por exemplo, é a principal causa de cegueira evitável no mundo, segundo o CBO. Embora não tenha cura, o diagnóstico precoce e o acompanhamento oftalmológico desde o início podem garantir o controle do glaucoma e livrar a pessoa da cegueira permanente.
“Este é o grande desafio que nós temos: conscientizar a população a buscar tratamento, porque a maior parte das doenças pode vir lentamente”, afirma. Ela ressalta que os cuidados não devem se restringir apenas àquilo que parece grave.
“A baixa visão também é uma percepção que deve levar ao oftalmologista, porque não só vai se avaliar se é uma prescrição de óculos que vai resolver a questão, mas também se pode identificar uma doença e isso pode fazer toda a diferença no curso”, orienta.
Pedro Carricondo, diretor do Pronto Socorro de Oftalmologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), diz, no entanto, que há alguns sinais que podem servir de alerta para as pessoas, como: qualquer alteração ou redução súbita da visão; dor ocular forte, principalmente se acompanhada de olho vermelho; olho vermelho com secreção ou que não melhore em um dia; visão dupla e traumas no olho. “Nestes casos é muito importante procurar ajuda o mais rápido possível”, recomenda.
Ele também aconselha as pessoas a não darem um jeitinho quando o assunto é saúde ocular. “Infelizmente, o brasileiro não somente negligencia sua saúde ocular, como inclusive se automedica, usando eventualmente medicações que, ao invés de ajudar, podem agravar suas doenças. Cuidado com profissionais não médicos, mais interessados em vender lentes de óculos que na saúde ocular dos pacientes. Estes não fazem a avaliação completa necessária para a saúde ocular dos pacientes”, explica.
Os casos de retinose pigmentar na família de Lucas Jardim fizeram com que a mãe o levasse ao oftalmologista todos os anos desde a infância. Mas foi apenas aos sete anos que ele, de repente, sentiu dificuldade para enxergar à noite. “É uma doença muito silenciosa. Então, eu não percebi que eu estava perdendo a visão. Para mim era normal, já que eu era uma criança, que as pessoas tivessem dificuldade para enxergar no escuro”, conta.
Hoje, aos 31 anos, Lucas relata que 85% da visão está comprometida e que a doença pode se estabilizar ou piorar até causar cegueira permanente. Entre os problemas que enfrenta por causa da retinose pigmentar estão a maior dificuldade para enxergar à noite e em situações em que se desloca de um ambiente claro para um escuro.
O economista conta que, embora a doença não tenha cura, o acompanhamento oftalmológico foi importante para entender a velocidade da retinose pigmentar e, para evitar, que ele perdesse a visão de forma precoce por outros motivos.
“Por causa de outros problemas de saúde, eu comecei a usar antibiótico e eu não sabia que era tão nocivo. Volta e meia eu utilizava sem ir ao médico. Eu já vinha percebendo uma diferença na minha visão e em uma dessas consultas de rotina o meu médico percebeu que eu estava com catarata, com 25 anos de idade”, lembra.
Ele afirma que o médico relacionou a catarata ao uso indiscriminado de antibiótico. “Se não fosse essa consulta periódica eu teria ficado cego bem mais rápido”, acredita.